Eu era pequeno e minha mãe (Vera Vargas) sempre dizia que criança e adolescente na realidade é um potrinho agitado que precisa de arreio e principalmente ter a quem seguir. Quando eu aprontava (foram poucas vezes) ela chamava minha atenção sem dó. Ela até contava que a sua educação fora rígida, e que teve um professor que anos o pessoal comentava como seria os dentes do tal professor, pois na aula ele nunca ria. Minha familia era uma tradicional curitibana, mas desde pequeno eu sempre chamei minha saudosa mãe de "mãe Vera" ou então mais comum, "senhora". Eu já grandão ela me pediu rindo que a chamasse de "Vera" - concordei... em um descuido meu me chamou e eu mais que depressa respondi: "Senhora?". Não tem como, as gerações atuais tem que ter por base o respeito aos mais velhos. Conta-se uma lenda (ou não) que durante a visita do imperador japonês Hiroito à sua terra natal todos se curvaram quando da sua passagem, mas ele parou e perante uma senhora idosa que estava curvada com dificuldade o mesmo a fez ficar ereta e em seguida se curvou. Todos os acompanhantes admirados ficaram curiosos quem seria a tal idosa. Vendo a perplexidade de todos ele respondeu: Esta senhora foi minha primeira professora. Sou o que sou por ter tido uma base fornecida com carinho e generosidade por ela.
Sou da geração dos anos 70, do auge ao fim da ditadura. Todos criticam a mesma. Com certeza teve aspectos sombrios e extremamente lamentáveis, mas teve a ditadura e a guerrilha. Então não existe santos na história. Em uma "guerra" não existe santos, somente lados opostos se duelando. E ponto final!
Mas uma coisa que admirava naquela época era o nacionalismo, mesmo tentando ser ufanismo por parte do governo, que tinha por base os dizeres da bandeira nacional. Toda crança (inclusive eu), usava o tênis que na época existia e só três eram aceitos no Grupo Xavier da Silva: O Bamba, para todos ( a gente personalizava tentnado imitar o All Star americano da época pintando as ranhuras como faixas com a BIC (vermelha, azul, preta ou verde) combinando para "personalizar". Já as meninas usavam o famoso "Conga"... Como eu implicava com aquele "pontinha de borracha" que queria ser o bico do tênis... rs... Logo após surgiu o Ki-Chute, que dava um chulé danado, mas quem usava era "o poderoso". Era sinônimo de jogador de futebol, másculo, viril, os "big-boss" da turma. Como enchi mamãe para ter um... Até que consegui após trocar por manter por um bom tempo o jardim limpo e cortado. As ervas daninhas (o pior era o capim-gordura) eram retiradas na faquinha com suas raízes e batatinhas. Ali aprendi que nada vem de mão beijada.
No Grupo iniciáva-se com todo mundo em forma pontualmente às 13:00 hs (meu turno era de tarde), todos cantando o hino nacional que era soado fino através das cornetas e estalado por ser um compacto de vinil. Quem ficasse brincando ou gaguejasse sem saber cantar, era "convidado" no final a subir e ser "convocado" para cantar junto com a diretora depois de uma semana. Era um carão danado, ninguém ousava... os transferidos ou novos já eram alertados por nós como proceder. Se fosse duas vezes, toda a galera ia ficar de castigo fazendo trabalhos para a escola. Ah, o portão de ferro era permanentemente fechado durante a aula. Sair pra quê? . Depois do hino, lia-se um breve papel sobre o que ia acontecer na escola, e depois abria-se dois livros: o dourado e o preto. O dourado era o sonho de todos os alunos, pois ter seu nome ali era o caminho certo para ser o chefe da turma, além do respeito e admiração dos colegas. Já o preto, era o inverso... tinha aluno que desandava a chorar tentando em vão "chantagear emocionalmente" a diretora. Sem chance - e livro preto era toda a turma direto de castigo. Como falei, no final todos os que "brincaram" durante o hino durante o dia eram "convocados" para dali a sete dias.
As salas eram espartanas, de banco de madeira articulados, mas presos à mesa por uma trava de madeira no nível do chão. A professora ficava sob um tablado, primeiro para que todos a visualizassem; segundo, gerava em nós um fator psicológico que parecia que era bem maior durante a aula, ocasionando respeito, pois ficava em um nível visual e psicológico acima de nós. Interromper só se fosse uma pergunta real. Durante uma explicação padrão, não se interrompia, só perguntava no final. Isto se refletia automaticamente no trato com os demais adultos. Respeito.
Com meus vizinhos era a mesma coisa. Todos eram cordiais entre si, e a piazada ia para o campinho de futebol - na realidade um terreno abandonado com umas travas feitas de ripas e mato baixo ao lado da minha casa. Quando havia uma disputa, tudo se resolvia no "campinho" ; depois os "escoriados" diziam para seus pais que tinham se machucado jogando bola ou de bicicleta... Era no "fio do bigode"... Ai se alguém resolvesse contar. Apanhava de todos do grupinho.
Naquela época tinha os "maconheiros" (gatos pingados) que insistiam em entrar no campinho para fumar a tal "erva"; cada vez que eram pegos levavam uma coça da piazada... Andar ou ter amizade mesmo que não usasse já ganhava a fama... e passava a ser ignorado, como sombras nas paredes de terrenos abandonados ou ratos de esgoto. Jogava-se Betsi na rua, subia-se nas árvores para pegarv fruta, atiçava os cachorros presos para latir - mas também ajudava-se sem pestanejar quem precisasse, como idoso atravessando a rua.
Nos anos 80 começou a tal "abertura"; foi a primeira vez que vi a palavra "tesão"" na música da Tetê Espíndola, "Escrito nas estrelas". Lembro que quando ouvi nas iniciantes rádios FM levei um baque, um misto de incredulidade e vergonha... Imaginava minha mãe ouvindo. Nesta época o Brasil se abriu para o mundo, chegando com menor tempo o que acontecia fora daqui. Começou a aparecer com mais intensidade a droga, os professores adotando uma tal psicologia nova vindo da França, que não deveria pegar pesado com as crianças para deixar aflorar suas "potencialidades"... Minha mãe exclamou um dia: "Começou o caos!" Indaguei e ela disse: Logo voce verá filho cuspindo ou matando seus pais, usando droga e todo mundo achando legal e tentando justificar o injustificável... Espero não estar viva para ver isto. Nisto Deus a atendeu e só viu o início.
Anos 90, e logo a ECO-92 e depois a ECA, que para mim com certeza deve evitar todo e qualquer excesso com a criança (espancamento não!), mas um beliscão, um puxão leve na orelha ou um famoso "tapa na bunda" é necessário. Na realidade dói um pouquinho, mas a maior dor está na decepção dos seus pais, ter deixado alguém que voce tem como modelo triste, como se quebrasse o mais fino cristal da admiração e respeito. A mínima dor física é o "fixador". A dor vc. não sente mais em dez minutos... Já a emocional demora... A ECA veio como se fosse um tratado genérico....
Anos 2000, pixação, funk, drogas pesadas, tráfico, matricídos, fraticídios, pais de 12 anos, "manos", violência gratuíta, desrespeito aos idosos...
Atualmente, veio a porcaria da politicagem nela com suas absurdas emendas. Hoje na última "modificação" não se pode tomar qualquer atitude contra crianças e adolescentes ( adolescentes de quase dois metros e alguns já pais) e sequer chamar a atenção ou "chantagear emocionalmente". Tem de convencer o "potrinho" a colocar o "arreio" por si só. Alguém acredita? Se levar ao pé-da-letra a lei até mesmo o banquinho da Super Nanny é contra a lei... Como falei no título, BONS TEMPOS. É, estou defasado dos valores e cansado deste tufão de desordem, medo e caos. Agradeço ao PAI ter colocado minha vida ainda que parcialmente em um tempo que havia respeito e educação. Desculpe este primeiro post. É mais um desabafo.
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